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Foto do escritorEduardo Regis

A Alquimia da forja

Frater Vameri


Foto por foto-rabe.


Se Ogou é ferro e fogo, então Ogou é a forja. É na forja de Ogou que o servidor dos Lwas é moldado e temperado. Não há maneira de se fazer isso senão pelo suor e pelo esforço. A canção diz que Ogou trabalha para comer. Aqui há dois sentidos – Ogou é gente como a gente e Ogou, se alimentado, irá realizar suas funções. Nessa lição estão inclusas noções importantes.


É importante lembrar sempre que Ogou teve papel de destaque na revolução haitiana e, nestes termos, a aproximação de Ogou com a figura do povo é fundamental, pois daí deriva um processo de identificação importante. É por meio dessa identificação que age um dos processos multivariados e complexos da forja de Ogou. É uma alquimia metafísica, que coloca Ogou não apenas como ferreiro, mas como verdadeiro alquimista que além de moldar, transmuta metais. Estou caminhando por vias esotéricas e sei que alguns podem me criticar por isso, mas os recursos estão aí para serem utilizados e nós lutamos com as armas que temos.


Assim – Bwa Kayiman – a cerimônia inaugural da revolução haitiana surge também como a chama perene que aquece o cadinho e que faz crescer as chamas do forno e da forja. Como o estágio inicial de uma revolução alquímica – explodem os espíritos e sua ação de revolta e de agitação obrigatoriamente fazem com que a pessoa saia do seu lugar e procure entender suas novas provações.

Do chumbo chega-se ao ouro – que não é o mais duro dos metais, mas é o mais nobre. A arma do guerreiro não é nada se quem a porta não for hábil e nas mãos do mais experiente batalhador, até mesmo a mais ínfima das lâminas será mortal. Ainda mais, o guerreiro experiente sabe quando e por qual razão lutar. E isso faz toda a diferença.


O problema da forja e da transformação alquímica é que elas dependem de um jogo dual. De um lado há o artesão (e quanto mais hábil ele for, melhor), mas de outro há o material com o qual ele trabalha. Essa é a parte que depende da gente. É precisa dar muito de si, é precisa dar de comer para Ogou, caso contrário ele não vai trabalhar.


Se o metal for muito duro, quebrará com as marretadas. Se for muito mole, também. O fogo pode ser a chave para se encontrar esse equilíbrio – é preciso entender que tipo de fogo queima dentro de nós. O conhece-te a ti mesmo é a arma primordial do alquimista e do ferreiro. Disso não podemos nunca esquecer.

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